“Acaso busco eu agora a aprovação dos homens ou a Deus? Ou estou tentando agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo.” (Gálatas 1:10)
“Sem uma consciência viva da minha identidade essencial como filho de Aba, é relativamente fácil ficar escravizado à aprovação e à desaprovação das pessoas.” (B. Manning)
Anthony DeMello escreveu com toda a franqueza em The Way to Love (O caminho do amor):
“Examine sua vida e veja como encheu o vazio dela com pessoas. Por conseguinte, estas exercem um total controle sobre você. Veja como elas controlam seu comportamento com a aprovação ou a desaprovação que lhe esboçam. Elas detêm o poder de mitigar sua solidão com a companhia que oferecem, de catapultar seu moral com o elogio que lhe estendem, de abatê-lo até as profundezas com crítica e rejeição. Observe como você gasta quase cada momento do dia aplacando e agradando as pessoas, sejam elas vivas ou mortas.”
No evangelho de João, os judeus são apresentados como incapazes de crer porque “aceitam a aprovação uns dos outros” (Jo 5:44, BLH). Parece haver uma incompatibilidade radical entre respeito humano e fé autêntica em Cristo. Os afagos ou o desprezo de nossos semelhantes tornam-se mais importantes que a aprovação de Jesus.
As opiniões dos outros exercem uma pressão sutil, mas controladora sobre as palavras que profiro e as que reservo; a tirania de meus semelhantes controla as decisões que tomo e as que me recuso a tomar. Tenho medo do que os outros possam dizer.
Peter G. van Breeman identificou o seguinte temor:
“Esse medo do ridículo paralisa mais poderosamente que um ataque frontal ou uma crítica áspera e sem rebuços. Quanto bem deixamos de praticar por causa do nosso medo da opinião dos outros! Ficamos imobilizados só de pensar: ‘O que as pessoas vão dizer?’. A ironia de tudo isso é que as opiniões que mais tememos não são as de pessoas que de fato respeitamos, mas, ainda sem nossa consideração, essas pessoas influenciam nossa vida mais do que somos capazes de admitir. Esse medo enervante de nossos semelhantes pode criar uma mediocridade pavorosa.”
Quando livremente consentimos com o mistério de nossa condição de amados e aceitamos nossa identidade essencial como filhos de Aba, lentamente nos tornamos independentes dos relacionamentos controladores. Tornamo-nos voltados para o interior e não mais determinados pelo exterior. As centelhas fugidias de prazer ou dor causadas pela afirmação ou pela privação das pessoas nunca desaparecerão inteiramente, mas diminuirá seu poder de induzir a autotraição.
Possuir o meu eu singular num mundo cheio de vozes contrárias ao evangelho requer enorme força. Nesta era de muita conversa religiosa vazia e estudos bíblicos em profusão, de vã curiosidade intelectual e de declarações pretenciosas de importância, a inteligência sem coragem está fadada à bancarrota. A verdade da fé tem pouco valor quando não é também a vida do coração. Antônio de Pádua, teólogo do século XIII, abria cada aula sua com a frase:“De que vale o saber que não se traduza o amor?”.
Em nossa cultura, as pressões da conformidade religiosa e do politicamente correto põem-nos face a face com o que Johannes Metz chamou “a pobreza da singularidade”. A pobreza da singularidade é o chamado de Jesus para ficarmos totalmente sós quando a única alternativa que se nos apresenta é negociar nossa integridade. É um solitário ‘’sim’’ aos sussurros do nosso verdadeiro eu, um agarrar-nos à nossa identidade essencial quando nos negam companhia e apoio comunitário. É uma determinação corajosa de tomar decisões não-populares que expressem a verdade de quem somos - não de quem pensamos que devemos ser, nem de quem outra pessoa quer que sejamos. É confiar o bastante em Jesus para cometer erros e crer o suficiente para saber que sua vida ainda pulsará dentro de nós. É o render-se visceral, espontâneo de nosso verdadeiro eu à pobreza de nossa própria personalidade misteriosa e singular.
Em nome da prudência, o impostor horrorizado nos levaria a trair nossa identidade e nossa missão, qualquer que fosse ela: permanecer ao lado de um amigo nas fortes tempestades da vida, solidariedade para com o oprimido à custa de zombaria, recusa de ficar calado em face da injustiça, lealdade inabalável a um cônjuge ou qualquer chamado para um plantão solitário numa noite fria. Outras vozes esbravejam: “Não questione nem se oponha ao sistema. Diga o que todos os outros estão dizendo e faça o que eles estão fazendo. Estilize sua consciência para combinar com a moda deste ano. Dance conforme a música. Nem pense em levantar as sobrancelhas em sinal de surpresa, e assim não será evitado como um excêntrico. Faça concessões e “se faça”. Você teria de se submeter de qualquer maneira”.
Qualquer pessoa que alguma vez se tenha posicionado pela verdade da dignidade humana, não importa quanto tenha sido violada, e que, depois de se manifestar, viu recuarem os amigos que antes lhe davam todo o apoio ou até mesmo se oporem a ela por sua ousadia, sente a solidão da pobreza da singularidade. Isso acontece todos os dias com quem escolhe sofrer pela voz absoluta da consciência, mesmo naquelas questões que parecem insignificantes. Essas pessoas acham-se sós. Ainda estou por encontrar o homem ou a mulher que aprecie essa responsabilidade.
A medida da nossa profunda percepção do atual estado ressurreto de Cristo é nossa capacidade de nos posicionarmos pela verdade e enfrentar a desaprovação daquelas pessoas que realmente contam para nós, que nos são queridas.
Não podemos mais seguir no encalço da multidão, nem ecoar as opiniões dos outros. A voz interior “Coragem! Sou eu. Não tenha medo” garante que nossa segurança repousa em não termos nenhuma segurança. Quando nos firmamos sobre nossos dois pés e assumimos a responsabilidade pelo nosso eu singular, crescemos em autonomia pessoal, em força e em liberdade do cativeiro da aprovação humana.
“Aba, ajuda-me a viver somente para tua aprovação, desejando que minha vida agrade a ti em grandes e em pequenas questões. Amém.”
“A vida sem ferimentos não tem nenhuma semelhança com o Mestre.”
Texto adaptado do Livro “O obstinado amor de Deus”
B. Manning
Pastor Gerson Lopes
(11) 9-4988-0412
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